Deus
Um deserto me engole a mente
Como se fora exilado
De coração esconjurado
Carrego o ímpeto de ir-me
Embora para longe
Por estradas sem destino
Sem cartas, sem mapas, sem retorno
Toma conta de mim
Essa vontade de ir
Que me camufla os pensamentos
Cimenta os bons momentos
Nos arranha-céus do meu peito
Puro concreto cinza sem janelas
De paredes opacas sem efeito
Isolado sem ter aonde
Imagino o quê daqui me tire
Acho que não mais me caibo
Enfastiado de mim mesmo
Implodo cem mil vezes
Toda vez me cato os cacos
Para remendar-me novamente
Acho que o céu me abandonou
Parece que comigo Deus frustrou
Depois de tantos erros
Tentativas sem acertos
Nem num céu com seus mil deuses
Numa nação politeísta
Haveria um deus tão otimista
Qualquer deus, de mim, desistiria.