Deus

Um deserto me engole a mente

Como se fora exilado

De coração esconjurado

Carrego o ímpeto de ir-me

Embora para longe

Por estradas sem destino

Sem cartas, sem mapas, sem retorno

Toma conta de mim

Essa vontade de ir

Que me camufla os pensamentos

Cimenta os bons momentos

Nos arranha-céus do meu peito

Puro concreto cinza sem janelas

De paredes opacas sem efeito

Isolado sem ter aonde

Imagino o quê daqui me tire

Acho que não mais me caibo

Enfastiado de mim mesmo

Implodo cem mil vezes

Toda vez me cato os cacos

Para remendar-me novamente

Acho que o céu me abandonou

Parece que comigo Deus frustrou

Depois de tantos erros

Tentativas sem acertos

Nem num céu com seus mil deuses

Numa nação politeísta

Haveria um deus tão otimista

Qualquer deus, de mim, desistiria.

Fábio Pirajá
Enviado por Fábio Pirajá em 20/06/2008
Reeditado em 25/06/2008
Código do texto: T1043203