Lágrimas de uma maré
Manhã preguiçosa
A que hoje me acordou;
Força intrínseca teimosa
Que a noite lamentou!
Entre a parede branca
Do meu quarto acizentado
Emerge um medo que se agiganta
Mantendo meu olhar arregalado.
Conto seres imaginários
Num céu azul celeste,
São pensamentos refractários
Num negro manto agreste...
Suplico a uma qualquer
Poderosa divindade:
Traçai-me o esboço de mulher;
Libertai-me da minha ingenuidade!
Súplicas regadas pelo chorar
Intenso, constante e ferido
De alguém que se quer encontrar
No seio de um labirinto erguido
Pela sua própria forma de pensar.
Agora, na beira da estrada,
Aqui, ao pé do mar sentada;
Revejo-me no espelho das águas;
Revivo minhas mágoas...
Mas, sinto-me mais encorajada!?
O sol quente parece comunicar
Através do seu modo apaziguante
De me aquecer como seu calor...
E, é nesse efémero instante
Que me faz erguer o olhar
Encarando o medo sem temor.
Sou uma filha do mar;
Iemanja é a minha mãe divina!
Nas suas águas me deixa banhar
Enxaguando minhas lágrimas de menina.
Com essas lágrimas intensas
Gerei uma brutal maré alta:
Ondas bruscas são imensas...
Alma ingénua que se sobressalta!