Velai por mim, Senhor!

Dando-vos graça pelo que sois,

Senhor meu,

eu vos invoco

nesta hora em que minhas forças

sentiram o peso de uma quase derrota.

Talvez eu já não tenha o mesmo vigor,

tampouco os mesmos sonhos...

Mas ainda existe no peito

um coração que pulsa,

que quase pára ou acelera nas farpas da dor

e nos maremotos da desilusão.

É por este coração que vos peço

pois sabeis que, dentro dele,

conservadas estão

e em franco desenvolvimento,

as sementes que, em princípio, lançastes,

embora necessitem de um vigor constante,

de um renovar atento e cuidadoso,

de mudanças indesejáveis mas obrigatórias

para que os rancores e a intolerância,

nem por um minuto, se acerquem

desta árvore ainda fértil,

cujos frutos precisam da potência dos adubos

para viver por si próprios,

com a mesma garra de quem os gerou.

Não permitais, Senhor,

que a seiva se esgote

antes do cumprimento de todas as suas obrigações

e possa gozar da alegria do dever cumprido.

Perdoai, Senhor,

as falhas cometidas nesta longa caminhada,

os momentos em que o orgulho e a vaidade

se mostraram presentes em gestos e atitudes

não condizentes com o amor e a humildade.

Perdoai, Senhor,

se em algum momento

os desejos foram maiores que os méritos,

se a decepção causou cansaço na caminhada,

se a vontade tremeu diante das dificuldades,

se o pranto cobriu, por minutos,

a visão da verdadeira beleza

que reside no fato único de "poder ser",

se ventos adversos causaram estragos

que poderiam ser evitados,

bastante que fosse a fé.

Então, Senhor,

eu vos peço

que não permitais que as intempéries

sejam mais fortes que a força do querer,

que as provas sejam mais difíceis

do que o conhecimento que se pode obter,

e, sobretudo,

que não esmoreça a vontade

de fazer de cada ato

uma expressão de verdade, justiça e amor.

Cleide Canton
Enviado por Cleide Canton em 25/07/2005
Código do texto: T37528