Travessia
Que tu não sofras os medos
Dessa incerta dimensão.
Não temas por teus enredos,
E não tenhas mais pretensão.
Virão os anjos alados
Pegarem nas tuas mãos.
Se forem corpos gelados,
Não temas, são teus irmãos.
Tu, que sempre sonhaste
Tão alto o teu corpo voar,
Ser mais bandeira que haste,
Suave o teu ser flutuar.
Não sejas tão curioso.
Amigos e amores virão,
No vácuo misterioso,
No frio do teu caixão.
E te dirão que a vida
A sete palmos de altura
Já partiu em despedida
Das queridas criaturas.
Teu último martírio, este
Tu não mais irás sofrer
Para trás, o que sofreste
Não temas, não temas, meu ser.
Já não bate o coração
E a tua cabeça não pensa
Estás em depuração
E já não tens mais doença.
Naquela câmara mortuária,
Lá não tem só solidão,
Pois a paz é necessária
Na hora da elevação.
Espera a próxima missão,
E descansa enquanto jazes,
Mas, dentro do teu coração
Com os teus fazei as pazes.