Travessia

Que tu não sofras os medos

Dessa incerta dimensão.

Não temas por teus enredos,

E não tenhas mais pretensão.

Virão os anjos alados

Pegarem nas tuas mãos.

Se forem corpos gelados,

Não temas, são teus irmãos.

Tu, que sempre sonhaste

Tão alto o teu corpo voar,

Ser mais bandeira que haste,

Suave o teu ser flutuar.

Não sejas tão curioso.

Amigos e amores virão,

No vácuo misterioso,

No frio do teu caixão.

E te dirão que a vida

A sete palmos de altura

Já partiu em despedida

Das queridas criaturas.

Teu último martírio, este

Tu não mais irás sofrer

Para trás, o que sofreste

Não temas, não temas, meu ser.

Já não bate o coração

E a tua cabeça não pensa

Estás em depuração

E já não tens mais doença.

Naquela câmara mortuária,

Lá não tem só solidão,

Pois a paz é necessária

Na hora da elevação.

Espera a próxima missão,

E descansa enquanto jazes,

Mas, dentro do teu coração

Com os teus fazei as pazes.

José Freire Pontes
Enviado por José Freire Pontes em 26/04/2018
Reeditado em 26/04/2018
Código do texto: T6319693
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