Feliz

Alimentas-te do que recebes sobre o chão

Conhecem-te o som de abastecer o vazio

Bebes água de várias fontes

Com pouco a perder

Lá vem o homem e te cria

Com a intenção de te comer

Para pagares o preço da prisão domiciliar

Não és obrigada a lavar pratos

Nem a lavrar prantos

Fazes filhos e aos teus netos dás de viver

Eles crescem e também voam

Podem até pagar contas

Mas não têm por que acumular dívidas

Eu queria ser tu

Será que vale a pena?

Quando a comichão na boca faz roçar o estômago

Sais do ninho, pias, sei lá

Cantas canções de liberdade

Engoles um monte de migalhas

Já te sentes satisfeita

Não precisas dum canudo

Para gerires tua própria vida

Não tens noção do que é sorrir

As tuas festas não se ouvem

Teus choros não consigo imaginar

Não sei se sonhas quando dormes

A fragilidade te persegue

Quem sabe te falte uma alma

E ainda assim

Certamente

És mais feliz do que eu.

Widralino
Enviado por Widralino em 20/06/2018
Reeditado em 08/08/2018
Código do texto: T6369349
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