O pedido

E pediu a Deus

que não fosse tão dorida

a perda da juventude.

Descia a ladeira da rua conhecida

e ouviu o tilintar de taças,

sôfregas carcaças

saltaram-lhe aos ombros.

E pediu a Deus

para não sofrer

quando a juventude

fosse dançarina manca:

uma última contradança!

O baile não acabara,

o salão ainda está repleto,

luzes, silhuetas agitadas.

E pediu a Deus

para não perder o ardor

do desconhecimento

quando a juventude se for.

Era absurdo seu pedido,

suas mãos tremiam levemente.

Rebentou suavemente a tarde.

Depois, o anoitecer.

Era agora um homem sem dor.