Conselho Angélico

No dia claro em que viste o Sol,

Tocou-lhe a luz estendendo o feixe eterno.

Sabia-se que era prumo do espaço,

Sabia-se que era doce o intento.

Te conto tão leve agora

Que vais desfalecendo anos

Pesados em seus ombros

E as palavras à ressonar.

Tão pueril era ainda

Quando tocaste a dita luz,

Me mostraste os teus dignos.

Te mostrei meu passado.

E lutávamos para não nos render

À magoa recíproca tão premente

Éramos desconhecidos?

Éramos desencontrados do tempo.

Mas quando vi seu olhar tão fátigo,

Cansados os ombros de carregar

O peso das asas de outros meus,

Quis as lágrimas enxugar, não pude.

Nem poderia tocar sua face bela

Para secar-lhe a fronte tive que lhe contar

Tão mas tão devagar que foi-se anos, à findar

Relembro-te os fatos mais vivos:

Sua altivez de vida

Seu olhar perspicaz

Sua doçura no gesto e no pensar

Sua imensa solitude à se formar

*

Toma que é teu o dia, ele disse,

E você foi como se não fosse

Ele lhe perguntou ainda,

E você fez que não fosse.

Senti como uma flecha Sebastiana

perfurando-lhe o peito em chagas

Fez nascer em mim a mágoa

Toda aquela conversa vaga, tu o sabes

Não quis e não quero remediar, eu sei

No entanto ainda brilha uma luz antiga

Que ainda há de se apagar lenta,

Anos luz se vão como segundos no espaço grave.

E ainda tens o alarde,

Ainda tens o alado alarme

De um outro suporte de tua alma,

Uma nova esperança que renasce.

É tudo o que tenho para lhe lembrar.

Toque o seu peito e arfe os ombros,

Não num súbito orgulho,

Mas numa calma suave.

Ande como se fosse vento,

Sopre suas brisas nas frontes,

Abram-se os horizontes

Debaixo de teus ramos lilases.

Fortuitos são os pilares,

Vigias tua caminhada e

Me deixa em sua morada

Como uma mãe, mulher e fibra e luz

E se precisares o caminho,

Teu destino lhe conduz.

Vinicius Vieira Vivaz
Enviado por Vinicius Vieira Vivaz em 02/05/2020
Código do texto: T6934868
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