Pastel de meias verdades
as vezes é preciso deixar o silencio falar
a corda romper, deixar o cego talhar
as vezes, nem é questão de fé
rezar uma missa, transpor uma valsa
encher a lingüiça, levantar as calças
as vezes é preciso deixar o vento levar
acordar um dragão, sambar por sambar
arrotar o oceano depois de comer as estrelas do mar
colher as pupilas vazias
e sentir o grito insistente, que paira suspenso no ar
muitas vezes, não sabemos quanto é tempo
o tempo teimoso que desloca uma rima de lugar
"Gabriela, debruçada na janela, já esquece quantos ventos
correm dentro ao coração
nem se lembra quando é flor, quando é lapela
não se lembra que é donzela, quanto ao príncipe lutador
seu Manéu -da vendinha da esquina-
vê-me um pastel de vento e um copo de guaraná
por que hoje lá na vila -minha vila-
o radinho do Pedroca não vai parar cantar"
lenga la lenga
la blabla, blabla, blá
corre, corre cotia
porque ninguém vai olhar
as vezes nem é uma questão de fé, (camará)
mas deixar os fogos da cidade lhe guiar.