Pastel de meias verdades

as vezes é preciso deixar o silencio falar

a corda romper, deixar o cego talhar

as vezes, nem é questão de fé

rezar uma missa, transpor uma valsa

encher a lingüiça, levantar as calças

as vezes é preciso deixar o vento levar

acordar um dragão, sambar por sambar

arrotar o oceano depois de comer as estrelas do mar

colher as pupilas vazias

e sentir o grito insistente, que paira suspenso no ar

muitas vezes, não sabemos quanto é tempo

o tempo teimoso que desloca uma rima de lugar

"Gabriela, debruçada na janela, já esquece quantos ventos

correm dentro ao coração

nem se lembra quando é flor, quando é lapela

não se lembra que é donzela, quanto ao príncipe lutador

seu Manéu -da vendinha da esquina-

vê-me um pastel de vento e um copo de guaraná

por que hoje lá na vila -minha vila-

o radinho do Pedroca não vai parar cantar"

lenga la lenga

la blabla, blabla, blá

corre, corre cotia

porque ninguém vai olhar

as vezes nem é uma questão de fé, (camará)

mas deixar os fogos da cidade lhe guiar.

Augusto Guimarães
Enviado por Augusto Guimarães em 08/06/2006
Reeditado em 22/08/2006
Código do texto: T171745