Cheiro de terra


Hoje um cheiro apanhou-me de supetão
atirou-me de volta à infância:
pés descalços barreados
no barro branco do ribeiro
que descia a ribanceira
plácido, majestoso, ligeiro


Camisa rota no peito:
magro, arfante, sonhador
olhos alagados de horizonte
desfolhando horas perdidas:

Bem-me-quer...Mal-me-quer...

Tic tac! Tic tac! Tic tac!...

Coraçãozinho balindo
na toada da cigarra
cheiro de terra molhada,
com requeijão na tacho
vaca chamando bezerro
passarada pipilando
na tardinha esmaecente
mutum, angola, galinha,
porco arando terra...

Hoje esse cheiro de infância
sacudiu-me de emoção