Cinza é a calçada

Cinza é a calçada, cingida de nevoeiro

cinzento. A pedra é o eco do tempo.

Rematada no frio do cimento oco

vazio na vã tentativa de monumento.

As casas são antigas na fralda do vento.

Que dizer dos olhos estáticos da velha

que fulminam a viuvez do momento?

Nos dedos franzinos garras de ave

Rapina cada instante dos seus medos.

A solidão é escondida na recordação

dos conhecidos que se foram dos dedos

habitam o sorriso da sua imaginação.

Uma chaminé, ainda alta, debita fumo.

Exala a refeição ruidosa de crianças

que governam o mundo. Já não estão.

Luís Monteiro da Cunha