TALVEZ POESIA

(aO Poeta GUIDO PIVA, in memorian)

O inusitado “mocanhês” da tua língua

Tem cheiro e sabor daquela fértil mocitude

A Rua Coronel Bento Pires, ainda

Era macarrônica e de felicidade amiúde.

Tão longe do bairro da “Mooca” nasci

Sou semente que germinou ao relento

Transplantado para o jardim do porvir

Ergui uma selva de ferro e cimento.

Na parede guardo lembranças da revolução

Em amarelecidos fotogramas do passado

São Habitantes do casarão da doce ilusão

Onde gentis moçoilas cultivam amor imigrado.

Tudo era, tudo mudou

A terra, a vegetação, o ar,

A praça, a rua, o cortiço

O dedo de prosa na mesa de bar.

Hoje, sou passarinho na gaiola

Sem trino, sem rumo ou direção

O futuro definha na fragrância da cola

Aconchego apartado na construção.

Nas patas do caminhão corre o progresso

Banhando o azul anil de fuligem cinza

A Mooca escreve seu protesto

Em prosas, versos e rimas do GUIDO PIVA.

Antonio Virgilio Andrade
Enviado por Antonio Virgilio Andrade em 27/06/2005
Código do texto: T28318