Garanhuns


A cidade acorda fria, enevoada.
Jardins e praças vivos!
O aroma das flores,
O balançar cadenciado das árvores
E a neblina dos morros
Cumprimentam os transeuntes.

Os pássaros, preguiçosamente,
Agasalham-se à sombra,
Enquanto o solo tórrido
Castiga as ervas-daninhas,
Até que o sol ceda seu espaço
Às nuvens cheias e à brisa,
E depois à chuva.

Vem o crepúsculo, a noite,
A lua em seu esplendor,
Ladeada pelos satélites menores,
Substituindo o rei-sol.

Na periferia,
Crianças brincam de roda,
Ciranda; de contar histórias.
Na intimidade dos lares
Os mais velhos recordam,
À meia-luz,
Os tempos idos da mocidade.

E vem a madrugada
De um dia qualquer,
Com sua quietude e beleza.
Ela inspira os poetas,
Restaura a debilidade dos fracos
E oferece trégua e paz
Aos mendigos...

É a vez e o tempo dos seresteiros,
Dos namorados e amantes.

Garis e a guarda municipal
Despontam nas calçadas
Agora desertas.

De repente, uma estrela
Desliza no horizonte –
O brilho das águas sob a luz.

A relva úmida, o orvalho,
O cão companheiro e amigo:
Indiferente e feliz.

A estrela ainda fiscaliza,
Escuta e cobre cada gesto,
Cada pensamento.

Agora a água não tem
Mais brilho:
Está serena, quieta.
A cinza queima depressa.
O gelo se dilui, impaciente...
O burburinho continua.
Mais forte, às vezes mais fraco:
Vai e vem...

O amigo se foi; ainda não é dia.
Ouço latidos de cães
Que se sobrepõem ao silêncio.

A estrela, solitária, me espreita,
Mas não se move.

Um veículo rola sobre
O asfalto deserto.
O ronco do motor
Confunde-se com as vozes,
Com os murmúrios de sempre...

Uma borboleta pousa sobre
A água e se apavora.
Nada mais há...
Além daquela estrela,
Os ruídos (mais distantes),
Os fogos ao longe e o
Latido tênue dos cães.