"Alguma coisa ficou"

O que ficou do passado senão

a lembrança de um rio comprido?

Nosso rio comprido e sujo

nosso por do sol beijando o rio

poluído e sujo sim,mas

o rio do inicio de nossos amores!

O que ficou do passado senão

estas samambaias crescidas e

criadas pela imensidão de nossas vaidades?

Alguma coisa ficou.

Ficou teu nome em uma lapide,

tua identidade no bolso de meu colete,

teu amor em tudo que tenho de sensível

e de gente.

Mas algo ficou além do poema doído e

além de tua morte.

Ficou a recordação do nosso tedio, nosso ócio,

engolidos pelos dias de sexo

e de folguedos de cama

nestas fotografias preto e branco,

-brinquedos pregados pelas paredes-

somente para vestir minha memória,

somente para que eu não me sinta oca.

E este rio comprido e vivo que corre aqui em frente, indiferente.

Suzana da Cunha Heemann
Enviado por Suzana da Cunha Heemann em 27/07/2016
Reeditado em 27/07/2016
Código do texto: T5710818
Classificação de conteúdo: seguro