Infância de Plástico

Foram longas horas em que brinquei sozinho

mas lembro-me do quintal estar sempre limpo,

sem esquecer que nada sabia ou entendia,

sobre os tipos de sujeira ou níveis de solidão.

Então estava tudo bem. Como somos adaptáveis!

Não importa, eu estava sempre comigo

e quando não, chegavam os amigos de plástico

em trajes, miniaturas, infindáveis aventuras

Me ocupavam o tempo a Tv, e a piscina

que também era de plástico, azul.

Ruim era domingo ou feriado,

a banca de gibis usados não abria...

um dia fechou na terça-feira,

o bom jornaleiro morreu...

E pela primeira vez na vida me ocorreu

a incômoda dor da perda, do finito

E daí eu fiz mais um aniversário,

e iam mudando os endereços, os amigos,

o guarda-roupas e os desenhos

Eu passeava no inverno deitando em setembros

A mente girava, inventando mundos

febrilmente atrás do sofá, de fronte ao silêncio

Ricco Salles
Enviado por Ricco Salles em 26/08/2018
Código do texto: T6430637
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