Infância de Plástico
Foram longas horas em que brinquei sozinho
mas lembro-me do quintal estar sempre limpo,
sem esquecer que nada sabia ou entendia,
sobre os tipos de sujeira ou níveis de solidão.
Então estava tudo bem. Como somos adaptáveis!
Não importa, eu estava sempre comigo
e quando não, chegavam os amigos de plástico
em trajes, miniaturas, infindáveis aventuras
Me ocupavam o tempo a Tv, e a piscina
que também era de plástico, azul.
Ruim era domingo ou feriado,
a banca de gibis usados não abria...
um dia fechou na terça-feira,
o bom jornaleiro morreu...
E pela primeira vez na vida me ocorreu
a incômoda dor da perda, do finito
E daí eu fiz mais um aniversário,
e iam mudando os endereços, os amigos,
o guarda-roupas e os desenhos
Eu passeava no inverno deitando em setembros
A mente girava, inventando mundos
febrilmente atrás do sofá, de fronte ao silêncio