Uma carta sem adeus

Escrevo-te essa missiva,

esperando encontrá-la bem,

pois a vida tem desses desencontros,

e nos desacertos só ficaram as recordações,

de um tempo tão distante e esquecido,

amarelado como o papel por onde a pena percorre,

rio de nanquim versejando memórias de saudade,

na torrente de lágrimas tristes que ao papel se misturam,

para borrar aquilo que algum dia já fez muito sentido...

Talvez não tenhas motivação para ler-me,

enxergar alguém para além das cicatrizes já foi seu ofício,

escutar alguém para além de seu silêncio já foi seu ardor,

tocar alguém para além da distância já foi seu amor,

mas tudo muda, você mudou, eu mudei, mudamos juntos,

e no viés da separação que essas linhas não retêm,

uma história/estória mal escrita na incompletude,

uma narrativa de pontos desfeitos nas costuras do destino,

e no final talvez nada mais importe ao presente que se esvai...

Talvez eu deva iniciar minha despedida,

aquele adeus que ficou aprisionado entre tormentas,

aquele até logo que jamais se tornou possível,

aquele passar bem que morreu nos meus lábios mudos,

aquele olhar de quem sabe que não haverá segundas chances,

quando o outono da alma cede lugar ao inverno,

nas nevascas que congelam sentimentos e ressentimentos,

então não farei cerimônia e apenas lhe desejarei felicidade,

e que os tempos vindouros sejam melhores contigo do que comigo...