RETRATO DO ARTISTA QUANDO JOVEM(À brilhante poetisa Maísa Silva)

Vez ou outra sou do contra-

Ponto, fuga em lá,

Si bemol se B mais.

Trago n'alma uma lontra,

Quero represa Igaratá,

Show inédito de jograis.

Conto com mirrada sabedoria,

Embora saiba amar T.S. Eliot,

O mar de Camões e de Pessoa.

Acendo velas à Virgem Maria

E até sorrio até a epiglote -

Uma sineta que ressoa !

Torci adoidado pela NASA,

Vibrei com o Lobo do Vigilante Rodoviário;

Li, aos prantos, a morte do Português

Em Meu Pé de Laranja Lima.

Nos circos e cines sentia-me em casa.

Decorei depressa todo abecedário,

Senti ternura pelos órfãos do Santa Inês,

Brinquei de médico com minha prima.

Tentei salvar do incêndio o joão- de- barro.

Compreendi o amor de Heathcliff.

Nunca pretendi possuir um carro,

Mas gosto duma roupa de grife...

Sou rebento d'O Feijão e O Sonho.

Acato olhar os lírios do campo.

Sou afeito ao Livro de Ruth,

Sempre pobre , e não me envergonho,

Inclusive amar as luzes de pirilampos.

Gostava de Rita no Tutti - Frutti.

Aleias floridas perfazem-me a vida,

As dores arderam feito cranco,

Mas curei-me em todas as feridas,

Sempre aguento o tranco.

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 28/10/2018
Reeditado em 28/10/2018
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