Das minhas lembranças de criança em Trás Os Montes, eu guardo aquelas conversas dos adultos no interregno do Inverno para a Primavera, pois nesta época do ano se aguardava a natureza dar vida às sementes que, como sabemos, teem de morrer para dar novas vidas à vida.
Anos depois e nas minhas andanças por este "jardim à beira plantado" (tão mal tratado nos dias de hoje, diga-se de passagem!) ao me sentar debaixo da Estátua do Grande Poeta "Bocage"  e por não ter ninguém para conversar, eu conversei com ele e com os meus botões:   São aqui apelidadas de "conversas de soalheiro" porque na prática o clima da primavera permite que o sol nos aqueça apenas por alguns momentos.  Daí que vos trago aqui algumas que eu escolhi em verso para homenagear póstumamente o Grande Poeta Elmano Sadino (Manuel Maria Barbosa Du Bocage" natural de Setúbal a Princesa do Sado. 

Conversas de “soalheiro”!...
Que me trazem tantas saudades,
Algumas até são novidades dos tempos de antigamente!
Quando eu brincava entre a gente,
Na aldeia aonde eu nasci,
E da efêmera infância que lá vivi!
São laivos da recordação,
Que eu trago no coração com a idade que eu tenho!
Quando me encontro a pensar,
E vejo que já não venho,
Sequer por não ter com quem conversar.
O Sol já se vai esconder,
Na noite de chamas a arder,
Escura do entardecer de um Povo a envelhecer!
São conversas a esmo no tempo e no vento,
Que voam para o infinito,
Da minha memória quando eu grito... ou tento.
Oh gente da minha terra, este meu canto encerra!
Um portal imaginário,
Que eu vi do alto do Campanário...
Da Igreja que me ensinou a ter Fé,
A acreditar no destino deste meu sonho de menino!
- Conversar na soalheira da tarde,
Sentado em cima da pedra,
Do caminho ali encostada...
E talvez de propósito ali deitada, ela dormiu encantada!
Noite adentro já bem cansada,
A conversa esmoreceu!,...
A saudade simplesmente morreu!...
E eu conversei comigo mesmo... só eu!
(In: POESIAS SOLTAS)
Autor: Silvino Potêncio - Emigrante Transmontano em Natal/Brasil

Nota de Rodapé: se eu pudesse conversar com o Poeta lá no alto do seu Pedestral de Menestrel, ele o Grande Mestre da Piada Rocambolesca, das palacianas agruras de uma sociedade faminta de fofocas e mexericos, da arte da Pantumina e do verdadeiro sentimento do POVO que me viu nascer, por certo eu lhe ouviria este monólogo que me acompanha a mim em surdina toda a vez que "converso com os meus botões" em poesias soltas ao vento da minha imaginação. 
São textos e prosas de "fique são" para depois de ler morrer saudáveis de rir! Ai, ai, esta lingua portuguesa que tem tantas nuances e armadilhas; ficção se diz "fique são"!


 
Silvino Potêncio
Enviado por Silvino Potêncio em 23/02/2019
Reeditado em 06/02/2020
Código do texto: T6582401
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.