Negrinho da pasta “oreia”

Não era o negrinho catarrento

Com o dente já podre de pasta de cinza

Que olhava de lado pro velho ranzinza;

Era a fome brincando de pique,

Que pulava trapiche,

Que passava seu dedo em lugar do anel,

Que não ia pro céu

Nem da boca da onça sonsa.

Que rolava trambique,

Mastigava até piche na boca do lixo;

Era a polenta bem quente

Que vem de repente pra boca da gente,

Depois de três dias de broca doída;

Que queimava essa boca

Que é boca de homem

Aquele, que dizem que tudo o que é dele,

O bicho não come.

Não era o negrinho magrelo

Com a cara de pé-de-chinelo

Que olhava pro sol e fazia careta

Careta de símio, cabelo amarelo

Secado de lua, de água de rio...

De fome, de sede, de raiva e de frio...

Era a miséria zanzando com jeito de morte

De gado de corte e o gado era eu...

E com muito mais norte,

E sem medo da morte,

E bem muito mais forte o menino cresceu.

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 03/05/2019
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