Uma noite no açude

É uma noite com luar,

Sereno, iluminado,

Perfeito para versejar,

Com poemas prateados.

O açude está cheio,

As margens estão molhadas,

Peixes nadam sem receio,

É noite, tarrafas estão guardadas.

Os sapos coaxam as escuras,

Mariposas voam para acasalar.

A bunda grande das tanajuras,

Vem o meu apetite aguçar.

Nossa, porque fiz essa analogia,

Entre uma tanajura e você?

És única, és uma iguaria,

Como é gostoso te comer.

Escuto o canto do bacurau!

Em suas penas têm todas as cores.

És única, e como ti, não há igual,

Em textura, cheiro e sabores.

O vento faz ondas no açude,

Trazendo às margens desejo.

Piabas e curimatãs tocam alaúde,

Nas águas desse mar sertanejo.

Escuto o canto do lobo guará,

Na beira do açude, neste mar.

Raposa, mocó e gato maracajá,

Vêm a sua sede saciar.

Inebriado pela magia do sertão,

Ouvindo o canto da sariema,

Fertilidade no ventre do cancão,

Como o marmeleiro e a Jurema.

Índia cabocla que me dá alegria,

Teu cheiro e tua beleza,

Me coloca nesta doce orgia,

Com o meu povo e a natureza.