Sim e não

Vem o sono, a noite, vem a solidão;

Vem a mente solta

E, nela, me vem claro aquele dizer não.

Vem em mim aquilo que não quero lembrar;

E de novo vindo, outra vez de novo,

o que não consigo esquecer.

Braços dados, risos fáceis, felicidade.

O rio ultrapassando o leito,

transbordando nossa cidade.

Vem a noite boa, minha astúcia toda

contra o teu recato,

E, no meu abraço, você perdia o trato

De se resguardar.

Uma moça ingênua,

se vendo em uma cena

E se envolvendo.

E, de medo bobo,

e ao mesmo tempo esperto,

Me dizendo não,

mas querendo sim.

Então, eu não podia te envolver demais,

Te tocar, enfim,

Além do que já fazíamos naquela vida

que nos era dada.

Você era o mel puro

que meus dedos sujos

Manejavam.

E que aprendeu com o corpo

A dizer o que a mente,

Ali, constantemente, insistia

Em mentir.

Me dizia não, mas querendo sim.

E o respeito tolo,

E ao mesmo tempo, refletido,

aceitava o não,

Embora, ao mesmo tempo,

Forçava em cada intento

o teu amável sim.

E o nosso paradoxo,

Nosso caso intenso

permaneceu assim.

Caso mal-resolvido.

Dois corações feridos.

Você lá e eu aqui.

Você aqui

e eu com você.

E toda vez que vejo

algo de bonito

Digo ao que restou

de ti aqui comigo,

Olha só que lindo,

Olha como isso

lembra teu sorriso.

E nós continuamos

Não sei até quando

E não sei se pra sempre

Permanentemente assim:

Nossa mente pedindo sim

Nossa distância,

Nossa situação

Dizendo não.