O COPO DO LOUCO
Certa vez um louco que andava
Por esta região, costumava frequentar
A comunidade, então rural,
E aproveitava para pedir ajuda,
Auxílio, espórtula...
Os moradores da comunidade
Forneciam-lhe alimentos, água...
Mas aquele louco, ao contrário de outros
Que por aqui também passaram,
Não gostava de copo.
Aliás, o copo que ele utilizava
Para beber água no rio
E nos riachos do lugar, em suas andanças
Pelos caminhos e becos rurais,
Era um búzio, uma concha vazia
De caramujo de água doce,
Que ele encontrara às margens dos riachos
E adotara como seu copo.
Um dia um grupo de meninos que
Conduziam um rebanho de gado
Avistaram à distância o doido
À beira de um riacho
Bebendo água na concha/búzio
De caramujo, e em voz alta falaram:
“Ei, ‘Seu Zé’, não beba água nisso aí,
Que faz mal! Isso aí é um búzio,
Uma concha de caramujo!”.
De lá, erguendo o búzio, firmemente
O louco respondeu:
“Meninos, você não sabem de nada!
Isso aqui é meu copo, meu copo bom!
Meu copo de beber água!”.
E pondo a concha no bolso,
Resmungando concluiu:
“Vão-se embora!”.
E Deixando o doido em paz,
Aqueles corajosos meninos sertanejos
Que só queriam fazer o bem àquele andarilho,
Seguiram viril e seriamente levando
O gado pela estradinha de terra.
Enquanto o doido permaneceu ali
À beira do riacho,
Dentro de uma propriedade.
Foi há muito tempo...