Lua Nova

Aqui, também é outono

Sinto, pouco antes do sono

O ritmo mais interior

No vaso de maio, botões em flor

Em outros tempos, ou estações

Num verão que viveu distante

Na mesma casa, há outra estante

E outros instantes; sonetos; Camões

Folha que cai do pé

Saudades do que não mais é

Misterioso, isso, como arrepio

Não era esta rua, antes, um rio

Redesenhando o tempo passado

A espera, o sentir-se atrasado

E o fluxo do vindouro inverno

Qual será o tempo, ou terno

A força rara dos ossos

Na rigidez dos ofícios

Infinitos são os cosmos

E as rimas, preciosas no vício

Meticuloso, como a unha e o dedo

A carne crua e a gadanho

O estar vivo, o sentir medo

Falando assim, soa estranho

Coisas do agora, segredo inconfesso

É meu decoro, às palavras meço

Tranquilo não temo, verso esculpo

Sensibilidade tamanha tenho, não culpo

Não, me assusta a folha

Deitada ao pé, voando longe

A paz do monge

A renúncia, a escolha

Ao sopé da montanha

Em tai chi chuan

O Tao a cada manhã

Mais o inverno assanha