CONTOS DE ESCORRER
No varal em casa de Quenga
vi o mundo dependurado,
um folhetim escancarado que escorre
sabão de coco e gozo esfregado
Picas, piriricas, fodas juguladas;
Borras, porras, nódoas iludidas;
Dendê, sururu, pimenta encarnada;
Pretas, pardas e a polaca destemperada
Calçolas pestilentas, assinaladas, consagradas;
Cintas ligas desligadas, desconectadas;
Uvas passadas, salivadas, corridas;
Putas amadas, execradas, cedidas;
Ventres desobedecidos, mortos, gorados,
crias de lixeira, esgoto em ladeira.
No varal em casa de Quenga
fluíam histórias, secavam memórias,
compunham-se odores, canções de amores.
Estrofes de vida e morte, morte e vida.
.
André, um Jerico
WWW.IDEIADEJERICO.COM