Céu de Vidro.

A cada dia que durmo

E a cada noite que desperto

Eu provo um pouco do veneno do mundo

Parece me levar pra longe

Me faz sentir deserto

Mas é certo que tudo ainda existe

E que algo aqui dentro ainda brilha e resiste

Mesmo que lá fora pareça escuro e um tanto incerto

Precisamos sair pra ver se é seguro

Sermos quem somos sem máscaras, barreiras ou muros

Nada como agora, como que presos

Ao sistema, à vontades alheias

Ou em nós mesmos

Nada à ver com esse vício

Essa maldita cultura de alienação e desperdício

Mas tudo simplesmente continua

O tempo que corrói

O que me nutria, que ainda me destrói

E o vazio que preencho com vinho e noites de lua

Poesia em papel de bar, atividades noturnas

E pela manhã eu descanso e te esqueço

Enquanto a brisa bela sopra as folhas verdes

Eu adormeço e sonho com tempestades de gelo

E olhares escuros de lentes negras e mãos ausentes

Um arrebol exangüe, deveras transparente.