Pedacinhos

Lembro-me das vezes em que retornei à casa

Que já não era mais minha, tampouco tua

Cercada por paredões de noites

Coberta por mares de estrelas

Repetindo teu nome, como oração de proteção.

Passava perto de malfazejos

Humanos como eu

Benfazeja de meus pais e de meus irmãos

E não sentia pedaço de medo

Embora vivesse apavorada

De não mais rever-te

De não resistir aos estampidos da saudade.

Mas, de pavor em pavor

Passei por ruas estreitas

Por cubículos madrugadores

Por pães de solidão

E mingaus de perdições

Até que ancorei aqui

Trazida pelos braços de outros amores

À margem de outros carinhos

Clandestinos.

Agora protejo-me mais

Cubro-me com colchas de lembranças

Nem tomo chuva de impressões tuas

Há tanto deixadas para trás

Acostumei-me com pratos de ausência

E deitar em rústicos colchões se tornou tão natural...

Bebo do chá de outros maridos

Comendo dos quitutes de outras sogras

E no sexo trago uma flor pálida

Dada na primavera e no verão

Fria, dura flor que se reveste em polens

E que não se sabem.

Sou hastes, bandeiras, mantôs guardados

Visões de povos agitados

Hinos nunca entoados

Cartas de liberdades desnecessárias

Ainda sonhando com espíritos que realizam sonhos

Que não possuo mais...

LLima

Luciene Lima
Enviado por Luciene Lima em 23/11/2006
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