Insônia
Insônia
Entre o sono e o sonho algo desperta em mim
Olhos em brasa que olham no escuro
Como sempre
Vigiam meu não-sono
Há um barco que insiste em recolher as velas
Sem partir, numa eterna espera de âncora lançada
Há uma sombra projetada que vislumbro trêmulo
A convidar-me
Para uma viagem de abandono por águas turbulentas.
Altas horas, como se estendendo suas ramas apertadas
O tempo espalha-se lento sem amanhecer.
Ouço triste um galo assustado
Que esconde sob suas asas todo meu terror noturno
Ranjo os dentes
Como se devorasse cacos de vidros.
Vozes espalham em meus lençóis incertezas cinzas.
Que levo ao barco ancorado
Esperando despertar uma outra parte de mim
Que sempre dorme
Enquanto temerosamente porejo de suor
Mesmo com a alma sofrendo um frio glacial.
Penso em acender a luz
E fugir para fora deste sonho.
Tremo.
Amanhece.
O sol desponta e minha mente me diz que é noite.