PONTO ENIGMÁTICO

Vai.

Anda logo.

Vai avante.

A rua está livre:

Nenhum carro

Nenhum transeunte.

Só, ao final (lá longe),

Onde a rua faz curva

Ao sabor do vento,

Farfalhando folhas,

Indicando direção

De árvores buliçosas:

Um ponto.

Que será?

Ponto escuro

Em minhas vistas cansadas.

Forço a vista,

Faço a revista,

Mas não adianta.

O ponto persiste

Em afastar-se

De meu entendimento

Meu ser se espanta

Com o mistério.

E eu vou.

Sim, vou.

Vou logo.

Vou avante.

A rua continua livre:

Passa apenas um carro,

Ligeiro,

E desaparece.

Passa um transeunte.

Apenas um.

E ele vai também

Caminhando.

Rua a fora.

Depois que ele

Passa e,

Quase se disfarça,

Em ponto também...

No fim do meu ver,

Decido caminhar.

Meus passos

São mais rápidos

Que a minha visão.

E quando,

Na minha pressa,

O ponto móvel

Volta a ser alguém

(E o ponto

Enigmático

Passa a ser algo)

Vem o susto.

O ponto perdido,

Distante,

Do fim da rua,

Era uma caçamba.

E o ser que

Caminha desespero

Nas ruas da cidade

Encontrou na

Rua de minha casa

Rua de minha vida

Uma caçamba de lixo

Para garimpar comida.

Vomito.

E volto correndo

Para casa

Tropeçando paralelepípedos.

Jess
Enviado por Jess em 05/01/2007
Reeditado em 13/01/2007
Código do texto: T337069