Pesadelo

Sinto-me preso, abafado, sufocado, tenso

Parênteses tentam cercear meus caminhos

Querendo resumir a poucas palavras, meus parágrafos

Açoita-me um vendaval, assusta-me um temporal gramatical

Despencam, aos montes, sobre meu corpo tosco,

acentos agudos, crases graves, circunflexos bumerangues,

hífens voadores, vírgulas intrometidas, metidas a

alterar meus pensamentos, pontos finais antes do tempo,

pingos latejantes, letras mudas murmurantes,

interrogações torturantes, exclamações feito lanças...

Até tremas trêmulos, arcaicos, obsoletos,

suprimidos, quase extintos, teimam surgir nem sei de onde,

tornando ainda mais assombroso meu pesadelo

Vou buscar abrigo depois das reticências, virando

a página, entre as tênues linhas e entrelinhas de

algum texto não sabido, perdido a esmo,

sujeito às intempéries, ao relento como eu...

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= Roberto Coradini {bp} =

12//12//2011