Luta inglória

Aquela força que ele julgava ter perdido

Ainda mora nos olhos de um menino

Ela conseguiu ver num passado contido

Tudo o que o homem fez num desatino

Ele julgou já tudo até o presente ter vivido

Quando ainda nem sabia o que o esperava

Foi num momento inesperado e sem razão

Quando ele nem por sonho imaginava

Que algo ainda ia lhe causar estranha confusão

Um indescritível e inenarrável maremoto

Invadiu para sempre sua pacata vida e então

Ele começou a cantar na varanda do prédio

Dedilhava na mesa do trabalho estranhas canções

Esqueceu por completo o que significava tédio

Desenhava nas planilhas insossas dos projetos

Imensas estradas com formato de coração

Mas a coragem não era sua melhor qualidade

Sem pelo menos vencer seu bizarro medo

Negou-se viver aquele novo amor que surgia

Guardou bem guardado o que não era segredo

Fingiu desaparecer o que nem sequer escondia

Foi assim que o homem foi tentando apagar

A enorme tatuagem que em seu peito ardia

Sangrando lutava para deixar de ouvir

As canções que loucamente o fazia lembrar

Daquela doçura que na vida monótona surgira

Como esquecer, expulsar, negar tanto sentimento?

Como voltar para aquela esquina tão sombria?

Era o que ele se perguntava a todo o momento

E enquanto isso fechava os olhos e não queria

Admitir que aquele menino já solto vivia

Louco de amor e de medo se trancou em um cais

Não sabia ele, que era ali no mar, pobre louco

Que o seu novo amor ali também se escondia

E quando percebeu que negar não podia mais

Que não existia prisão, grades ou celas

Onde pudesse esconder e sufocar tantos ais

Entrou no barco, soltou as amarras e as velas....

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 12/01/2017
Reeditado em 12/01/2017
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