Os mistérios de Catarina, de Minas

Ela quase nunca fala de si,

como se de si, nada importasse.

Como alguém pode ser assim,

sempre de lá pra cá,

daqui pra lá,

mas sempre só

e como se, com um único nó,

amarrasse o seu balaio

e dissesse, sussurrando pra si,

se essa cabana cair eu não caio

e até em seus poemas,

em breves temas, teoremas,

quando fala,

só se expressa com metáforas,

como as roupas que disfarçam,

como se, não quisesse mesmo,

que soubessem de si.

Mas me importo com ela, sim,

mas não é com aquela mesma curiosidade

de um jornalista a procura de um furo

de reportagem

e até mesmo sem a mesma coragem,

é que, quem não sabe,

que quem pouco fala,

trás muitas surpresas na mala

e sempre terá muito o que contar,

mas qual será o mistério dessa menina,

Catarina, lá das Minas,

senão o quinhão do ouro preto, muito bem guardado,

as lindas pedras lá das diamantinas

ou um coração lacrado,

característica de algumas solitárias meninas,

incompreendidas, como são muitas vidas?

Catarina, uma menina,

com tanto amor para dar.

Mas ela me é muito familiar,

tão devagar com o andor,

como se ele fosse de barro

e no trem para as minas,

quantas estações há

e onde irá ela parar

com os seus mistérios,

como fantasmas rondando o cemitério,

implorando por preces

e a presença de um bom santo

para poder enfim, desabafar.

Sua vida não me interessa,

mas será feliz, a Catarina(?),

a menina, lá das minas,

que quando vem,

vem com tanta pressa,

que nem dá pra gente conversar.

Mas sobre o que mesmo conversar,

se Catarina, sem o padre,

nunca vai se confessar?

Talvez Catarina não possa (ou não queira)

amar.