MORTE ENTERRADEIRA (Ao meu pai Eraldo Antunes)
Neste fatídico dia enterrei meu pai
no cadinho de uma sepultura úmida
e quente, enterrei meu pai!
De braços abertos, e sem nenhum preconceito,
a terra o recebeu com a alegria de uma criança
que, prestes a receber seu prato predileto,
sorriu e disse amém.
Um corpo dentre tantos outros corpos tragados
numa nave de terra dirigida por decompositores
ávidos e competentes transformadores da natureza:
— Nela, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma!
Para onde será levado ninguém sabe,
qualquer coisa que se diga acerca disso
são apenas conjecturas, conjecturas apenas.
Sob os olhares de amigos, parentes e pessoas
alheias, ele nos disse: — Adeeeuus...!
E numa árvore, bem no alto, uma folha-de-lenço
se balançava em resposta à despedida.
Sua derradeira viagem ao infinito e ao além será
o marco deste poema à morte enterradeira do meu pai.
Boa viagem, meu velho! Boa viagem!
Palmares 15/05/2018
RESPEITE-SE OS DIREITOS AUTORAIS: LEI Nº 9610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998