POBRE NASCER

Noite gélida na soturna choupana

Onde humano é apenas o ténue calor

Do bafo que alastra na fedorenta cabana

E afoga em pranto a desumana dor.

O abrigo cercam apodrecidos taipais

Onde nem vela lacrimosa derrama luz,

Criança simples nasce como as demais

Na pureza singela da Natividade de Jesus.

Pelas frinchas do colmo de palha e lama

Em dança suave entra neve branca e fria,

Acumula nas rochas que servem de cama

E nos imundos recantos da casa vazia.

Abafados e emudecidos pelo vento norte

Gritos chorosos de voz débil e rouca

Soam nas penedias de silêncio de morte

E ecoam nos tojos do monte perdido

Como magia que enche de coisa pouca

A casa do menino na pobreza nascido!...

José Rafael
Enviado por José Rafael em 26/10/2005
Código do texto: T63834