Outras coisas sobre a insônia
Empesteado de outros novos sonhos
acordei as três e vinte e cinco
Uns com gosto
de saliva chocolate absinto
outros com o cheiro
das meias verdades
que a vida mente
quando sinceramente
nem sinto
Uma leve dor de cabeça
anunciava outro dia comum
O galo do vizinho ensaiava
a sua sinfonia
enquanto gatos no cio
(rapsódia em zoom)
faziam do seu ritual
desejo e rebeldia
Cães uivavam
a ausência da lua
e a rua ainda escura
não era procura
para nenhuma companhia
Acordei
as três e vinte e cinco
impregnado
de outros novos sonhos
Com o soco do alarme a finco
o tempo sorrindo
com dentes de ponteiro
O tempo é muito medonho
se você imaginar
que ele te corrói por inteiro
Uma música ao longe
com desagradável melodia
chorava amor não conquistado
Hoje acordei
as três e vinte e cinco
sobressaltado
com sonhos de que minto
quando na verdade o real
não é bom nem é mau
é só um quadro que pinto
Hoje acordei
as três e vinte e cinco
recheado de sonhos famintos
minha língua beijando
o céu de Regina
Os sonhos mais sinceros
com o calor dos boleros
e as valsas de Mercedes
Hoje eu acordei
as três e vinte e cinco
com o falso vento
do ventilador
tremulando a lista da feira
Hoje tem promoção
de mandarinas...
e o seco da boca que se esgueira
ensaiando a sua sede
para o vinho tinto
Sonhos com olhares castanhos
estranhos platelmintos
labirintos ganhos
em meio ao verde
não de mato, mas sim
da cor das paredes
essas que dentro de casa
são mais que prisão
enfim, são teias,
são brasas, são redes...
Hoje acordei
as três e vinte e cinco
e tão claro, percebi
a vida não é esse obscuro não
é algo que pressinto
é um bom conto futuro, tupi...
só mais um mundo de ilusão
As três e vinte e cinco
acordei com mais instinto
e não voltei a dormir
somente a alma
na cama do coração
26-06-2019
03h45min