Mulheres públicas

Dama de malares salientes, de maçãs róseas

as covinhas... as covinhas de muitos coraçõezinhos

seu trottoir é um andar que deambula

quebrado, une marche... uma marcha

a sua, mas harmônica

meias sete oitavos cobrem colunas

fortes, pilares erguidos pela arquiteta natureza

a exibir uma balaustrada indolente

nas esquinas da noite;

aqui um pescoço modiglianesco,

ali um doce humor raveliano, lá um salutar sorriso

surrealista; dois pares de lábios que são

uma única estrofe, uma perna,

que de tão bela não reclama seu par,

que é apoio

ma vie... a voz de uma se faz, pianíssimo

tu vais, eu interpelo; vós faríeis, ela conclui

a messalina de malares salientes,

de maças róseas, que ignora Toledo que toca

e a arte de seduzir e deixar-se seduzir,

pois que nunca fora conquistada

She is a woman, therefore to be won

é para as mulheres privadas

cativadas, que gostam de estórias

mas falta-me pouco mais de um quarto

um quarto como este, um quarto

de hora, falta-me somente a mim, não a ela,

que com voz de falsete

arremeda o que não sente pr'um ouvido sensivo

amanhã é outra noite, conclui a rameira

amanhã o senhor é de novo artista

e o melhor do rocaille, o odor melífluo

as variedades da carne, as deificas formas

da figura feminina multiplicada em espelhos

ficam para trás, perdem-se

no peso da aritmética fria dos monumentos

cinzentos, sem arte, que somam-se uns aos outros

e me levam de volta...