Alma índia

Alma Índia

Através da janela do trem

que perdi

passeiam imagens

que não vi.

Meus dedos dedilham

um violão imaginário

com canções

de um repertório

que inventei para mim.

É mato, poeira,

rede, esteira,

naquela cabana

no meio do mato

em sonhos e fatos

que me embalam.

Meu corpo é selva, é relva

onde meu espírito índio habita.

Minha tribo já não existe

e a voz de Tupã insiste: - “Pegue o trem”.

Mas a estação está tão longe

e absolutamente vazia

e minha preguiça ancestral

ignora a voz que dizia: - “Aqui não é sua terra natal”.

Que Tupã me perdoe

e outros deuses da mata

mas vou perder este trem

e o outro que vem

e os outros que possam vir.

Ficarei por aqui,

índio sem taba, sem tribo,

cavalo sem estribo

não quero prédio ou parede

meu abrigo é esta rede

que meu corpo aquece.

O resto...

bem, o resto esquece!

Mauro Gouvêa

(2002)

Conheça outros poemas: http://www.recantodasletras.com.br/autores/maurogouvea