Morte da consciência(overdose)

Em instantes psicodélicos

fantasmas emergem de meu ser.

Escapam aos milhares

pelas frestas do telhado.

E meu corpo solitário

em convulsivo desespero

se vê como num espelho:

irreconhecível coma espiritual.

A beira do abismo paro de pensar

ameaço logo não existir,

raciocínio é só uma lembrança

de alguns minutos antes

a esperança também fugir.

Foram-se os sentimentos.

Foram-se as sensações.

Foi-se a razão.

Ficou o nada.

E nada é tão grande

que esmaga o que restou.

A seringa é minha fuga

da angústia do vazio.

Papoula suave heroína

arrebata-me o carrocel

nas pétalas da flor.

Recomeço a viagem

do céu ao inferno.

Meu Deus até quando baterei em sua porta,

sem que abras para mim?

Pois a muito procuro seu céu

pela veia certa

talvez a via errada.

O que me salva desvirtua.

Observo outra vez que tudo me foge.

Observo o fogo em meus olhos

e a fúria de meus gritos.

Observo daqui meu corpo estendido

uma muher seu choro aflito.

Ao fim da batalha estão todos mortos.

Moros meus sonhos.

Morta minha esperança.

Mortos os que de braços cruzados

pensam não ter nada a ver

com a morte de um corpo

que a muito não viu

sua alma padecer.

Eneas Andrade
Enviado por Eneas Andrade em 24/04/2006
Reeditado em 22/10/2006
Código do texto: T144434