Espelho irrefutável

Espelhos! Ampulhetas tão magistrais

da nua realidade escancarada,

que incônscios cativamos entre os cais,

escravos da ilusão mais descarada.

Porém é inacessível a cada homem

de si próprio evadir-se, desdenhando

seus muitos eus, que sem luz se consomem,

errando, o infinito desafiando.

Os espelhos despertam em silêncio

aquela intimidade imprescindível

pela qual se vulnera brando o néscio,

pretendendo uma vida apetecível.

A essência das coisas somente é vista

pelos olhos chorosos que fascinam,

como chama que ao povo fraco incita,

virginal dos oásis que paz minam.

Serpenteiam os homens entre campos

bifurcando-se em criança, em futurista,

enquanto espelhos selando seus corpos

os deixam frouxos como roda inquieta.

Seu semblante varia: de barbas brancas

em fábulas sonhando ser um nobre...

ou o porvir de sutis promessas francas...

Espelho! Austero juiz que certeza abre.

O cristal não nos diz que deliramos

medrosos hibernando frente à rota;

conhecendo o que somos e o que temos

estimula ou derruba o que nos resta.

Inês Marucci

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 26/04/2009
Código do texto: T1561803