Vias

Eu nasci naquela rua

Como é o nome mesmo?

São Paulo.

E me criei os primeiros anos

Numa outra rua do mundo

Muritiba

É o nome da cidade.

Aprendi bem cedinho que não importam os nomes, os mapas

Porque depois a gente esquece tudo mesmo.

Então para quê gastar tutano com o que só serve como entulho de alma?

E aprendi cedo também a olhar os olhos de quem eu amava

E a saber que um dia não estaria mais ali aquele que eu amava

E que aquele que eu amava estaria sempre comigo

Nas lembranças, nas dobras das saudades

E foi por isso que eu não quis aprender mais nada.

Eu passei os dias da mocidade ali

Naquela rua

Como é o nome mesmo?

Campinas, um porto alegre, rio dos janeiros que passaram

Pois nem visitei todos os lugares.

Mas ficou o mapa da vida nas palmas das minhas mãos caiadas

E quase levo os dedos à fronte já cansada

Só me arrependo de não ter mais vida

Para amar todos os homens, para rir com todas as mulheres

Para ser pilhéria para todas as crianças

Para escarnecer de todos os bêbados

Pois meu pai me deixou vazia

Emborcando todas as garrafas que em casa havia.

Agora eu vivo cá nessa rua

E o nome dessa, tenho que olhar na placa que fica na esquina de outra rua

Onde vive alguém que amo hoje em dia.

E quero morrer é aqui

Feliz

Pois sei onde vou parar agora

Num plano sem nome e que ninguém conhece

Tampouco certo desconfia.

LLima

Luciene Lima
Enviado por Luciene Lima em 29/05/2009
Código do texto: T1620774
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