Gestos mínimos

Se cedeste ao apego

desenfreado a coisas, matérias;

se teus olhos são tão cegos

que não vêem quão bela

é a vida cotidiana.

Se não tens sequer um resquício

de tempo para a saudade;

se te custas caro o interstício

para ser gozado de felicidade,

que vazio és enquanto pessoa humana!

Se não te comovem os risos

involuntários em situações adversas;

se estudas a gramática e os riscos

das palavras e por isso quase nem conversas,

que ser sem sentido és, e desinteressante!

Se tens as relações interpessoais

apenas como modo de atalho

para cedo alcançar teus ideais;

quão pobre és, e falho

para com teu Criador e semelhante!

Se a ressequida retina

de teu olhar não rasa o lago,

todos os dias, ao despertares para a grandiosidade;

quanto aço armado reveste-te o teu íntimo!

Então, aí não há milagres, nem graciosidade divina

que rompa a vacuidade de teu espaço.

Desfigurada é tua vida, posto que tuas realidades

empalidecem o arco-íris irradiado dos gestos mínimos.

Cid Rodrigues Rubelita
Enviado por Cid Rodrigues Rubelita em 16/06/2006
Código do texto: T176610