A Alquimia do Ser Vivente

Quando a espuma das ondas tocou seus pés

Lavando um pouco da areia da praia,

Enquanto ele caminhava, sem pensar no tempo

Como se andasse no convés de um velho navio

Preocupado, ao ouvir no abafado som do mar

O prenúncio de uma perigosa calmaria...

O experiente marujo estudava as nuvens, o jeito do ar

E na verdade se preocupava, pois a falta da tormenta

Era para ele o prenúncio da morte.

E tinha tanto, tanto medo de morrer.

Ele, que viveu tantos anos, coração sempre aos saltos

Ele, que aprendeu a por esse mesmo coração num altar

E jamais questionar nada que fosse que dali viesse,

Hoje tinha medo desse mesmo coração lhe falhar...

E voltava a esse seu deus interior toda força de sua prece.

Ele que tinha amado tanto, a tantas mulheres,

Carregava cada uma como um precioso tesouro.

Mal sabe que a cada uma, por prateados talheres,

Teve sua lembrança apagada, por perfume e por ouro...

Mas ainda assim se enganava, ainda assim se iludia.

Em certo momento, no caminho na praia...

Um anjo do céu lhe apareceu.

Trajava um capote e em vez de auréola, um chapéu

E trazia nas mãos um caduceu.

Era um anjo-alquimista, era um mero plebeu...

Mas ao seu lado caminhou e a conversa que veio,

Fez o homem escutar, e pensar sem rodeios.

O anjo falou das diversas esferas...

Da mágica união, entre o saber e o sentir

Deu ciência da luz, de Trismegisto, e das feras

De procurar o que passou e o que está por vir.

Falou do quanto nos prendemos a idéias

Que nos engessam, que nada transcendem

Que perseguimos como os lobos nas alcatéias

Aceitando embrulhadas do jeito que nos vendem.

E o homem que ria, chorava, e com o tempo se preocupava

Pensou diferente, talvez mais um pouco

No quanto aquela saudade do nada lhe pesava

E nas tantas vezes que se acercou de ficar louco

E mais que pensar, passou a sentir

Não aquela paixão selvagem de um músculo controverso

Sentiu outra coisa, subiu aos céus e desceu à terra

E aprendeu que de um lado só, não é o inverso

É na duplicidade, cabeça e coração, que se encerram

Os segredos da vida, do amor, e de todo o universo.