Dualidade

Flutuas no quarto enquanto o teu corpo dorme

E te sentes livre ao ver-te ali repousado

De movimento e pensamento

Embora sonhes contigo mesmo

Sem saber ao certo se és o que dorme

Ou o que consciente se eleva por sobre a mediocridade plana da vida.

Esta dualidade misteriosa te assalta

Agora que não há compromissos nem encontros

Nem as contas exasperantes

Nem o odor mofado de memórias descontínuas

Nem o som, o barulho, a música do rádio, o filme da televisão.

Distante o amigo, a amiga, o filho, o pai.

Flutuas e repousas ao mesmo tempo.

Se a vida não é este encontro chocante com a realidade- que agora parece um sonho-

E se esse sonho agora é tão real,

Quem és tu afinal?

Alma, anjo, espírito, deus entre os deuses?

Tudo parece sem sentido. Esta tua busca na vigília

Por um sinal que desconheces,

Despertar sobressaltado,

Noite mal dormida,

Corrida, suor, fila, labuta,

Em que realmente acreditas? Por quem realmente te dedicas?

Flutuas assim mirando teu corpo inerte

E agora sim, tudo parece se explicar:

És o motor, a mola, a essência,

És o que voa, o invisível, o real.

Nagib Anderáos Neto

andergatti@terra.com.br

www.nagibanderaos.com.br

Nagib Anderáos Neto
Enviado por Nagib Anderáos Neto em 26/07/2005
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