Dores da alma

Dói a alma

que percorre o fio da navalha

cortando-se delicadamente

Nem chega a sangrar...

Depois vem um alívio

Uma cumplicidade

Um silêncio tatuado entre paredes

Mãos entrelaçadas

a segurar o desejo

na teia da manhã

Dói a alma

ver o sol nascer

impunemente

a esparramar-se diante de

uma reta ideal

A projetar sombras

E colorir nuvens...

Meus pensamentos curativos

recitam Camões,

Drummond e Florbela Espanca...

E as pernas perdidas

procuram fazer o caminho

Mas, onde está o alvo?

Haverá ponto de chegada?

Haverá o cais...

e atar as amarras.

Mas, a alma não conhece âncoras

Navega ao infinito

Desafiando a lógica.

Não possui dialética.

Apenas a métrica um corpo

premido por emoções.

Saem de minhas mãos

palavras esmirradas

num pretenso branco do papel

A tinta escorre lânguida

nas redondilhas das vogais.

E, tremem nos pontos finais.

O apocalipse é sempre dramático.

Não queremos o fim.

Mas, caminhamos todos os dias

para ele.

Indefectivelmente.

Dói a alma

diante da manhã súbita

É uma manhã a menos.

Porque amanhã, será outra.

Inédita. Inaudita.

Imprevisível.

Verei aquele orvalho?

Encontrarei um semblante amigo?

Os raios em seu declínio

descerão...

Religiosamente.

Morrerão alguns.

Nascerão outros.

Entre manhãs inéditas

e noites óbvias.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 08/12/2017
Reeditado em 17/12/2017
Código do texto: T6193788
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