A rua.

Eu passo todo dia

pela mesma rua

e na frente de cada casa

Há sempre um jardim disposto

de maneira diferente

no tempo e no espaço

Eu faço esse trajeto

a vida inteira do mesmo jeito

Passa a vida

Passam ruas

Passam-se rostos

e se vão

do lado oposto

Pois a rua

não mais é a mesma

Quando termina

há outras calçadas

Perto da praça

Mas a graça de tudo isso

É o colibri que bate as asas

e se aproxima

Mas não é todo dia que ele sorri.

Ali tem Sol

e ele brilha

E tem sido assim a vida inteira

Se as nuvens o encobrem

e me impedem que o veja

Nada diz que esteja apagado

Pois nem sempre a cerejeira dá cereja

e jardins são sempre jardins

Todas as ruas do mundo

tem dois lados

e sombras

por sob as sombras das nuvens

Sem que eu veja

O sorriso do colibri

Por trás de escombros

Eu acho assombroso

Tantos seres crendo na dúvida

que o beija-flor sorria

não acredita, se não o vir

e crê nos poderes da dor

que vem da outra rua

No final de cada dia

Brilhando ou não o Sol

Outra noite nunca é igual

E aquela rua também não é mesmo

A mesma que termina naquela praça

E esta é a bela graça

de toda uma vida

Aprendida na ausência da pressa

E que a gente não vê

Mas ...

Invariavelmente termina

Na esquina onde tudo começa

E que fica naquela rua

Pois, todo mundo

um dia passa por ela.

Edson Ricardo Paiva.