Manifesto aos poetas

Uma manhã sobre uma tarde

basta pra nos dizer pequenos,

franzinos,

fincar os pés no chão por entre as brechas de um salmo concreto.

Ah se os dias me explicassem suas erudições!

não os que pedem as estações

- por mera convenção -;

a esses os poetas proclamam remelas.

Falo dos dias que se juntam em conluio em busca do desconhecido,

como uma torneira ao fim de um beco sem saída

ou um verso de Rimbaud saído da Abissínia:

com marcas de suor por entre as omoplatas.

Mas voltando ao poema...

Uma manhã sobre uma tarde basta pra nos dizer pequenos;

os jambeiros não nos pedem sombra,

mas as seivas, os fungos, os mofos, os cimos e outros condimentos dos sonhos.

Proclamo então, aos poetas, recobrar razão aos inventores.

Façamos todas as harmonias imagináveis!

O que esperar dos poetas senão as mãos ligeiras e frescura nos versos?

Os ventos quando me erguem os cabelos são ao mesmo tempo o movimento elástico da confusão dos galhos nas mangueiras;

lascas de luz por entre as brechas dão ao mesmo sol dos campos no verão.

Façamos todas as harmonias imagináveis!

Antes que seja outono

e os confetes coagulem-se nos versos.

Cavem!

antes que os vigilantes!

Cavem!

a inventar tabacos.

Cavem!

com a virtude dos prisioneiros!

Cavem!

Façamos todas as harmonias imagináveis!