Quietude exordial

Pedi somente suave penumbra sadia

para calar uma voz que me aturde,

não pedi imenso oásis de alegria;

é a veia melancólica que explode!

Pedi quietude que adormece flores,

sem a voz pensada a face sulcando;

à balbúrdia humana meus recusares,

quero me abstrair na gota pingando!

Nada ser para não sentir,apenas gota

desmanchada, bamba, caindo e caindo,

no pélago largo,talvez numa floresta,

à imensidão longa vou m’entregando,

e sem sofismar ela vai me tragando!

Átomo invisível divinal de energia,

reciclando todas as vozes do bulício

pela mudez da eloqüente nostalgia:

ao nada voltar visando um reinício!

Se o obstáculo circunstancial é cinza

nada mais é, vagando solto ao vento;

gotícula muda ao átomo se harmoniza,

renascendo virgem cada pensamento!

As montanhas estarão pregadas no céu

ou será o chão que se dependura nelas?

Assim, mentes e pensamentos tagarelas,

quem puxa qual ou acende o fogaréu?

Santos-SP-24/06/2006

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 25/06/2006
Código do texto: T182186