Amar é amar (e pronto).

Um dia alguém entra em sua vida sem mais nem menos. Você é rapidamente atraído e não luta contra o que sabe que pode acontecer. Cai nas garras do amor e se deixa ser envolvido. Aos poucos vai deixando que esse sentimento seja exposto para tentar entregar ao outro o que você tem de mais bonito nesse momento de adoração. E são saudades escritas em fundo azul ou vermelho e letras brancas; são sentimentos que explicam sobre o que faz a ausência e como reage o

pensamento quando a presença é constante. São confissões que surgem espontaneamente, que são puras, ingênuas e sinceras. Você vive para o outro como se ele fosse mesmo diferente.

Tudo é um mistério que cerca esse amor arrebatador, que deixa seus dias sempre alegres. E por amar, você acredita que é amado e que nada pode acontecer para modificar o presente. Já não importa o passado, e o futuro é o que você vive idealizando viver com essa pessoa.

Ela parece ser aquela alma gêmea. Dá um frio na barriga quando o telefone toca e ela diz que é bom falar com você.

Você acredita cegamente que essa pessoa também acredita no amor como você.

Passa a construir castelos de ilusões, que mais tarde serão destruídos com uma simples descoberta.

E como em um baile a fantasia, você encontra uma pessoa que conhece muito de você, mas que se esconde atrás de uma máscara. Ela fala de amor usando as suas palavras e é tão meiga que você daria tudo para que ao baixar a máscara

encontrasse a pessoa que ama. E você não diz nada. Espera que a própria pessoa tire a máscara, mas ela não o faz.

E de repente você começa a cansar de ver seus sentimentos ironizados na voz de uma outra pessoa que é a mesma. Finge não compreender; espera mais um pouco e nada. Dá a ela a oportunidade de uma dança antes que o baile termine, mas ela

não percebe. Por estar mascarada, pensa ser possível enganá-lo, testá-lo sem perceber que no baile você está sem máscara, porém consegue ver através da do amado. Quando o sentimento existe, é possível sentir o outro mesmo que ele não tenha a mesma percepção.

E seu amor entra em desespero. Fica dolorido não por ter que enxergar os defeitos do outro, e sim por não compreender porque o outro não é mais aquele que você encontrou e por quem se apaixonou. As perguntas rodam sua cabeça e tomam seus pensamentos como os poemas que ele escreve sem confessar que são as juras de amor que você fez.

Um turbilhão de sentimentos possui todo o seu corpo e não são mais sensações que agradam. Acontece como se uma força sobrenatural rasgasse você ao meio.

Aí, você assenta com sua dor, e indaga onde foi que errou. Quer saber se a falha é sua ou daquele que usa seu amor. Respostas ficam cada vez mais confusas e então você descobre que tentar entender é um erro. Que esperar a face daquele que não quer amar é tolice, e que amar é manter a ingenuidade, mesmo sabendo quão maldoso é o que o outro tem a oferecer.

Nesse instante você descobre que amor não precisa ser imposição, precisa ser território inexplorado, terra de ninguém, enigma para ser desvendado junto e não jogatina onde com a mentira acredita-se poder alcançar um coração.

E quando esse conceito atinge a palavra, o silêncio é trocado pela maturidade e o amar segue ressoando um poema triste, uma canção melancólica, um correr de nuvens em direção nenhuma. E, nesse instante se conhece a alma de um poeta, porque na dor de saber-se enganado ele sabe que nasceu para o amor e mesmo ferido não consegue odiar.

Quando você ama constrói uma represa, e em todo lago existe o lodo, o fundo e a escuridão, mas existe também a razão para ser assim. Descubra-a, e talvez a máscara que você anseia que alguém retire, caia antes que o amor ocupe o

território do esquecimento, porque:

* “Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar? Amar e esquecer, amar e malamar, amar, desamar, amar? Sempre, e até de olhos vidrados, amar?... Este o nosso destino: amor sem conta, distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,

doação ilimitada a uma completa ingratidão, e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor. Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita”. (*Carlos Drummond de Andrade).

Amar, sabendo o outro, vários personagens, amar, sabendo do assassínio do amor, amar, sem limites por amar. E, na dor, amar, o aprendizado. A máscara e a (s) face(s) (s) (s).

Eliane Alcântara
Enviado por Eliane Alcântara em 01/02/2006
Código do texto: T106846