DUVIDO DAS RIMAS

Duvido do holocausto lingüístico imposto e disfarçado

Ó prásinas lixas da epopéia visceral!

Tu foste a nau... arfou e naufragou – no sonho, inflou

Contudo, prima e congestiona a pilha dos enfermos

Ó rima, inopiosa prima!... do desvelo, do apelo, do bócio epidêmico

A coleira ensangüentada do poeta, a vala

Essa escada rolante repleta de ócio

Tão repelente e tão gasta!

Duvido das rimas – algozes atrozes sob o pretérito mais imperfeito

Vão envolvente em exatidão... nada ao poema, à alma

Consciência revés da essência que se julga discernir

É a rima, a amolgada presença da ausência

Esdrúxulos versos, fúfios verbos a se entrelaçarem com a dor

Um poeta e meio mundo a sorver uma podridão instável

Meio poeta a volver no imundo e amável solo... reprovável

A ginecomastia abstêmia do pascigo, a veia perplexa e irretorquível

São tão poucos e assaz ínfimos os recônditos da rima, que ouso a rechaçar

Modo mais displicente de sentir, de vomitar

Proliferando injúrias aos mantos endoplasmáticos e viscerais... pérolas vivas

E mais:

Ensurdecendo o tempo – olheiro contumaz que assovia e assopra

Mas, jamais retoma do ponto donde olvidou da batatinha que nasceu e se esparramou.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 21/09/2008
Código do texto: T1189825
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