É preciso

É preciso

Perder a linha, perder a cabeça, perder o juízo

Perder, quem sabe, alguns arraigados valores

Perder a forma arredondada de algumas certezas

Procurar nas arestas dos dias, escondidos temores

Enveredar-me por outras ruelas e suas cruezas

Fazer nova forma em rotina abundante

Deixar de lado os fatos que cansam, os extenuantes

Erguer-me entre o sal e a terra,

sentir-me gigante

Esquecer as fragilidades que se fazem tão firmes

Perder os pontos que teimam em piscar, invisíveis

Olhar por entre a relva do chão caminhante

Encontrar alguns vermes que estão rastejantes

Pisar com mais força nos fatos mais tristes

Sacudir a poeira das vestes e idéias que,

de tão velhas, persistem

Levar a loucura passear com vaidade

Tratar com ensejos de luz os impuros desejos

Da carne sofrida e da alma esquecida

mostrar seus lampejos

É preciso mudar os rumos batidos, as teclas usadas

Perceber que mágoas e dores fazem boa cruzada

Mostrar grandes garras aos variados bandidos

Em braços bem firmes, com arco e flechas envenenadas,

matar os valores que teimam em ficar

mesmo quando escondidos...