retorno das chamas 


Ah essa matemática que dirige as nossas vidas!
Numa lógica fria e demasiadamente calculista;
Não quero viver por entre a intricânsia dos objetos;
Isso exigiria  familiaridade com coisas e  pessoas;
Vivo num dilema entre o que penso que sei e o que realmente sei,

E entre o jogo de máscaras, o espetáculo do mundo,  a ignorância simulada nos leva a viver  com ideias que, se de fato vivêssemos,  estremeceriam  como um abalo sísmico toda nossa existência;
Diante desse dilema, compreendemos com precisão cirúrgica,  o abismo sem fim que nos separa de nossas próprias convicções.

O mundo se fragmenta clarões nos instigam ao conhecimento, esvaziando a familiaridade que nos daria paz;
 [Parece que o inverossímil e o absurdo, tal  e qual como a hora do nosso nascimento ou a hora exata de nossa morte que os sistemas nos informam, da qual nunca desconfiamos, é capitulado na nossa crença porque o absurdo não é crível, por que não é crível descrer]

Enquanto isso minha pobre alma, ah minha alma! Tem obsessão pela clareza, e deseja a verdade;
Mas ela  tem como certeza que a única narrativa significativa do pensamento humano é a que diz dos arrependimentos e das impossibilidades.

E que os mais significativos assuntos da história humana são a transitoriedade, resistência, destruição, esperança...
E entre a certeza que tenho da minha existência e o conteúdo que tento dar a essa aparente segurança há um fosso que nunca será transposto.

Serei eternamente outro diante de  mim mesmo,
E minha porção particular de morte sempre me espreita;
Afinal  quem  pode escapar do fogo devorador do mundo?

Melhor que o homem não  tivesse sido criado, diz um talmudista, mas já  que foi  que assim seja;
Ressurreição? Eu não  existia, mas existo e  quantas vezes não retornei das chamas...
 
Labareda
Enviado por Labareda em 13/11/2008
Reeditado em 03/01/2017
Código do texto: T1280482
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