FOME DESSAS COISINHAS
São essas coisinhas amorfas
Sem dedos, esporádicas
A me fazer de réu na questão do espelho
Assim, meio imprecisas, a me ungir.
Já não suplico
Tecem-se veias em meu âmago discreto
Num quase ereto retro-vírus descalço
Margens inteiras de vendaval.
São dessas coisinhas perigosas
A me tentar; deslizando chinelas na alva areia
Precipício primaveril – o sangue quase sente
Um silêncio mais silente do que o ar.
Em voga, o eterno medo de amar
Essas coisinhas pusilânimes, venosas e pulsáteis
Pela hora do amargo jantar – fel das cinzas
Não tomo nem como com varinhas cansadas.
Na prásina dor, o alforje decíduo
Donde blefa solidão almiscarada [rolha invernada]
Quando segreda champanha escuro... de luto!
Três dedos de história a decifrar.
Por essas coisinhas, primo pela prosa pragmática
Catre estático, enigmático como a vida
Ardida, roliça e zafimeira
Fitando-me à revelia duma centelha erguida.
Só de prazer constroem-se ditas coisinhas
Por tolas que lecionem aos olhos plácidos
Por sê-las, invadem tais cavernas... cativas
À idade duma boca lânguida.
Ah, quanta fome!