FOME DESSAS COISINHAS

São essas coisinhas amorfas

Sem dedos, esporádicas

A me fazer de réu na questão do espelho

Assim, meio imprecisas, a me ungir.

Já não suplico

Tecem-se veias em meu âmago discreto

Num quase ereto retro-vírus descalço

Margens inteiras de vendaval.

São dessas coisinhas perigosas

A me tentar; deslizando chinelas na alva areia

Precipício primaveril – o sangue quase sente

Um silêncio mais silente do que o ar.

Em voga, o eterno medo de amar

Essas coisinhas pusilânimes, venosas e pulsáteis

Pela hora do amargo jantar – fel das cinzas

Não tomo nem como com varinhas cansadas.

Na prásina dor, o alforje decíduo

Donde blefa solidão almiscarada [rolha invernada]

Quando segreda champanha escuro... de luto!

Três dedos de história a decifrar.

Por essas coisinhas, primo pela prosa pragmática

Catre estático, enigmático como a vida

Ardida, roliça e zafimeira

Fitando-me à revelia duma centelha erguida.

Só de prazer constroem-se ditas coisinhas

Por tolas que lecionem aos olhos plácidos

Por sê-las, invadem tais cavernas... cativas

À idade duma boca lânguida.

Ah, quanta fome!

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 23/11/2008
Reeditado em 07/05/2009
Código do texto: T1298360
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